segunda-feira, 9 de março de 2015





Localização de Ponte São Vicente:











Á memória do Senhor, Manuel Soares, antigo presidente da junta de freguesia.
 

7/10/1914
+31/10/2007
 

Agradecimentos a atual Junta de Freguesia, e ao seu Presidente o Senhor, António da Silva Vieira, pela colaboração e a cedências de fotografias.


Genealogia:


Baixar livros Paróquias de Ponte São Vicente:
Batismos de 1599 a 1906  

Óbitos de 1882 a 1906



Demografia:





Fontes: 1758 Inquirição, outros dados do INEE



Depois dum aumento da população, a partir de 1864 o número de habitantes baixa até 1900, devido a conjunção de inúmeras epidemias e da emigração para o Brasil (também em muita parte resultante dessas mesmas epidemias). Depois dum ligeiro aumento até 1911, nova baixa devido desta vez a gripe espanhola muita mortífera em 1917, e também a deserção e emigração desta vez para França dos mancebos em idade de cumprir tropa (no principio dos anos 20). Ultimo aumento até 1950, com um forte aumento no fim da segunda guerra mundial (baby boom). E enfim uma lenta, mas inexorável baixa desde daí, devido a forte emigração principalmente para a Europa, e ao êxodo rural.



Os nossos primeiros nomes:

A freguesia chamada hoje, Ponte São Vicente aparece a primeira vez na Historia, em 1089, num documento chamado Censo de D. Pedro. Ele que foi o primeiro arcebispo de Braga depois da reconquista sobre os Mouros.




Manuscrito em letra carolina sobre pergaminho, 231,2x14 cm,
Documento composto por quatro tiras de pergaminho, cozidas entre si. O texto foi escrito na frente e no verso, por uma só mão.




Transcrição do Padre Avelino de Jesus da Costa em "O bispo D. Pedro e a organização da diocese de Braga, Volume 2, 1959":


486-De Sancto Johanne de Conciliario II modios
487-De Sancto Vicenti de Ripa de Homine II modios 

488-De Sancto Adriano de Monte III bracales
489-De Sancto Micahel de Onoriz I modium


Nesse censo dos impostos paróquias a cobrar pelo Bispo, estudado pelo Padre Avelino de Jesus da Costa, aparece o nome da paróquia de Sancto Vicenti de Ripa de Homine ou seja São Vicente das Ribas do Homem. Para que não haja duvidas depois dos nomes de Lanhas, Coucieiro e em antes de Oriz São Miguel e Santa Marinha. Más também mesmo em antes da paróquia hoje desaparecida de São Adriano do Monte, que o ilustre historiador identificou como sendo a Citânia chamada hoje de São Julião (classificado como Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 28/82, DR, 1ª Série, nº 47, de 26 fevereiro 1982).

Assim sendo no tempo do rei Afonso VI, avó e padrinho do nosso primeiro rei, a freguesia de São Vicente era constituída por duas paróquias independentes a volta de duas Igrejas S. Vicente em baixo e S. Adriano no cume do monte. Cada uma pagando o seu imposto o Bispo de Braga, São Vicente pagava 2 Módios de grão medida antiga de origem romana ou seja 34 Litros e São Adriano, mais pobre, pagava 3 medidas de bragal (tecido de linho grosso). São Adriano, deixa de ser paróquia a partir do tempo de D. Sancho I (ultima referência em 1188). Por isso ela juntou-se nessa altura a S. Vicente e para não haver confusão, o núcleo habitacional de S. Vicente foi chamado de Vila de Baixo (nome do lugar) e a antiga São Adriano chamada de Vila de Cima até desaparecer no tempo de Afonso V de Portugal (os vestígios mais recentes encontradas nas escavações da citânia feitas pela Dra. Bettencourt foram uma moeda desse tempo, nomeadamente um ceitil e cerâmicas do séc. XV), dando lugar a um novo e atual lugar de Vila de Cima. 
Esse documento de 1089 é o mais antigo que menciona de forma clara e inequívoca a freguesia de São Vicente, más sabemos que estas duas paróquias são bem mais antigas, uma por ser uma Citânia com data inicial de 900 anos em antes do nascimento de Jesus Cristo (datação de carbono 14 feita nas escavações da Dra. Ana Bettencourt), outra por já estar bem estruturada em 1089 a existência dum templo e dum forte imposto a pagar ao Bispo (só Sande, Coucieiro e S. Pedro Valbom pagavam tanto, as outras paróquias pagavam metade: Sabariz, Lanhas, as duas paroquias de Oriz, e Paçô). Para reforçar essa ideia o historiador A. de Almeida Fernandes no seu livro Paróquias Suevas e Dioceses Visigóticas menciona os nomes dos lugares de Serem (Sereni) e de Germel (Germiri) como sendo de origem Germânica, e assim povoado pelos invasores Suevos. Essa ocupação periférica da freguesia pelos Suevos no Sec. VI, poderá eventualmente indicar que o centro da freguesia era ocupado por uma quinta (villae) de fundação romana que virá a ser propriedade da nossa Igreja paroquial até ao Séc. XIX (cerâmica de origem romana foi encontrada na quinta do Paço em Coucieiro, (O Inventário Arqueológico do Concelho de Vila Verde p. 46)). De facto a ocupação do território na época medieval era de preferência feita numa eminência, mais fácil de proteger (como no Lugar do Lameiro ou em Vilarinho) então que a Vila de Baixo está num sítio plano e sem defesas, por isso de fundação certamente anterior a ocupação muçulmana.
Enfim com respeito a paróquia de São Adriano, por ser herdeira duma citânia e por ter sido habitada de forma continua até ao Séc. XV, deve estar mencionada no Paroquial suévico redigido a volta do ano 580, na lista das paróquias Bracarenses. A única menção hipotética desse documento que poderá eventualmente corresponder a paróquia de S. Adriano do Monte é a paróquia de Senequino nome que poderá ter evoluído segundo Almeida Fernandes em por exemplo Sanguinha ou Sanguinho. Justamente o Padre Avelino de Jesus da Costa falando de São Julião sita um documento de 1078 que descreve Lanhas como sendo ao pé do Monte de Santo Adriano aonde passa o ribeiro Sanguineto (hoje, ribeira do Tojal) que deu nome a um Lugar do Pico São Cristóvão: Sanguinhedo, “ In Villa Lagenas sub monte Sancti Adriani rivulo Sanguineto território Bracarensi” 


.Os nossos primeiros Senhores:
Torre de Penegate


Depois da reconquista, um dos nossos primeiros senhores conhecido é D. Egas Gomes Pais de Penegate, (por ser o local onde ele vivia na freguesia de Carreiras de São Miguel).
Descendente dos Senhores de Bravães, terá nascido por volta de 1060, casou com D. Sancha Mendes (filha do Conde D. Mem Pires de Longos). Foi nomeado Tenente das Terras de Regalados, associadas às de Penela, Rendufe e Bouro (entre Neiva e Cávado) pelo Rei D. Garcia depois da derrota do conde de Portucale Nuno Mendes, na batalha de Pedroso em 1071. Foi fundador do Mosteiro de Rendufe, más mesmo assim foi durante um tempo excomungado por D. Geraldo Bispo de Braga, por incesto com a sua prima, até dar umas terras em troca da reabilitação. A sua filha D. Froille Viegas casou, num casamento de conveniência, com D. Fafe Lux de Lanhoso, alferes do Conde de Portugal, D. Henrique de Borgonha e levou em dote entre outras as terras de Rendufe, Bouro, Vila Verde, Loureira, e a Quinta do Lameiro.




Nobiliário da Famílias de Portugal, Felgueiras Gayo Vol. IX Teixeiras


Eles certamente viveram no Paço de Lanhoso (aldeia dos arredores da Povoa de Lanhoso), e foi aí que nasceu D. Egas Fafias, sendo o segundo filho da família ele herdou só a herdança da mãe e não as terras limítrofes de Lanhoso, por isso depois do seu casamento com D. Urraca Mendes de Souza veio viver para a Quinta do Lameiro e tornou-se o primeiro Senhor do Lameiro. Em 1139, ele combate com o seu pai, na batalha de Ourique ao lado de D. Afonso Henriques, e em seguida vai para Jerusalém participar na cruzada (possivelmente acompanha Gualdim Pais, que permaneceu 5 anos na Terra Santa, participando na conquista de Escalona, 1153, e Sídon), combate tão bem ao serviço do Rei Balduíno de Jerusalém que o Rei em agradecimento lhe dá as suas armas (o seu brasão). Egas Fafias, tem 3 filhos nascidos decerto em São Vicente, D. Froille terá como herdança Vila Verde e Loureira na forma dum Couto e será mãe de Estevão Soares da Silva arcebispo de Braga, Mem Viegas, o filho mais velho, o restante das terras, e Gonçalo terá um percurso impar descrito a seguir.



O nosso mais ilustre conterrâneo:


Gonçalo Viegas, o mais novo dos filhos de Egas Fafias, torne-se um homem de confiança de D. Afonso Henriques e será em 1171 alcaide de Lisboa (comandante militar da praça de Lisboa). Depois, Fronteiro da Estremadura (governador militar da Estremadura), onde em setembro de 1173, como representante do Rei e na ausência dele, ele terá um papel conciliador na trasladação das relíquias de São Vicente e na disputa entre Lisboetas que seguiu a chegada dos restos mortais, (uns queriam que ele fosse sepultado na Sé e outros na Igreja homónima), ele é citado na Miracula de Mestre Estêvão, chantre da catedral de Lisboa, que relata esse evento como “um homem valoroso e prudente” e “dá ordem para se pôr termo as discussões e se esperar pela decisão do rei sobre assunto de tamanha importância”, evitando assim um confronto armado. Em Março de 1175 sabemos que ele era mordomo da Infanta D. Teresa.
Enfim entre 1175-1176, ele é nomeado primeiro grão mestre da



Ordem de São Bento de Avis, inicialmente chamada milícia de Évora, com o objetivo de defender Évora dos Mouros. Embora alguns historiadores acreditam na formação dessa milícia logo apos a reconquista de Évora por Geraldo sem Pavor em 1166, R. Pinto de Azevedo conclui que Avis terá sido uma Ordem genuinamente portuguesa, criada pelo monarca entre Março de 1175 e Abril de 1176 (AZEVEDO, Primórdios da Ordem Militar de Évora, in Boletim da Junta Distrital de Evora nº8 1967, p.49-53), ideia reforçada por Miguel Gomes Martins: "Inicialmente designada como Milícia de Évora, surge em Portugal entre 1175 e 1176, por iniciativa de Afonso Henriques - que, para isso, tirou proveito das tréguas firmadas com os almóhadas, entre 1174 e 1178-, sendo o seu comando entregue ao experiente Gonçalo Vieigas de Lanhoso, até então tenente de Lisboa." A arte da Guerra em Portugal 1245 a 1367 p.175 e por uma das maiores especialistas na história da Ordem de Avis, Maria Cristina Almeida e Cunha, passo a citar: “Não restam quaisquer dúvidas de que a Ordem de Avis descendeu de uma milícia estabelecida em Évora, que reunia um grupo de cavaleiros em torno de um Mestre, D. Gonçalo Viegas de Lanhoso" em Estudos sobre a Ordem de Avis (Séc. XII-XV) 2009, Faculdade de Letras Porto p.40. Porque na verdade, o primeiro documento que fala dessa milícia é uma doação régia a Gonçalo Viegas de Abril 1176 (Documentos Medievais portugueses de Ruy Pinto de Azevedo). Depois dessa doação inicial, o seu nome é mencionado nos dois testamentos de D. Afonso I, como no de 1179: “E dei ao Mestre de Évora Gonçalo Viegas mil maravedis para gastar em utilidade e defesa da cidade quando for necessário”. (Ver transcrição do testamento pelo Prof. Doutor Amadeu Torres). No testamento anterior D. Afonso I lega “ao Mestre Gonçalo Viegas e seus irmãos que demoram em Évora 3 000 Maravedis e quaisquer animais que possuir, e quantos mouros de Santarém eu aí tiver e os que tiver em Lisboa."



Testamentos de D. Afonso I


Gonçalo acaba sua vida em herói, morrendo com muitos dos seus freires de São Bento na batalha de Alarcos (Espanha) em 18 de Julho de 1195. No entanto apesar da sua morte, a quinta do Lameiro ficou ainda durante alguns séculos ligada intimamente a ordem de Avis, porque de pelo menos de 1187 (citada na bula papal de Gregório VIII) até 1410, o lugar do Lameiro, será a sede da mais antiga comenda da Ordem Militar de Avis, morada dos Comendadores que geriram as terras doadas à Ordem no norte de Portugal (entre Minho e Douro). Embora essa comenda chamava-se Comenda de "Oriz" ela estava “hospedada” no Paço do pai, Egas Fafias para depois ocupar umas construções novas anexas, hoje em ruina.

Baixar A comenda de Oriz da Ordem de Avis, de Maria Cristina de Almeida Cunha










Construção da nossa antiga Igreja:



Como já indicado, em 1089 já existia uma igreja paroquial em São Vicente, só que ignoramos tudo desse primeiro templo, outro foi edificado no tempo de D. Afonso Henriques, ardeu no fim do Séc. 19 e destruído por volta de 1930 para “aproveitar” a pedra para construir o murro do cemitério. Pelas pedras, desse murro podemos mais ou menos datar a edificação dessa igreja, porque uma delas



represente o brasão dos Fafes, brasão que foi usado por Egas Fafias até a sua volta da terra Santa por volta de 1155. Assim a igreja foi construída provavelmente entre 1140, (depois da batalha de Ourique) e 1155. Essa pedra também nos indica que os Fafes participaram no financiamento da obra, ideia que é reforçada pelo facto da capela da Casa do Lameiro ser inicialmente dedicada a Nossa Senhora da Conceição, que é também e não por acaso, a vice padroeira da nossa freguesia.






Inquirições de D. Afonso II, 1220:

Julgado de Bouro
Documento original da torre do Tombo






Inquirição de D. Afonso II

 

Texto original em Latim:

(Transcrição de Alexandre Herculano em Portugaliae Monumenta Historica, 1888)

De Santo Vicentio de Coucieiro, Gomecius Johannis abbas, Gomecius Petri, Martinus Michaelis, Petrus Petri, Martinus Gunsalvi, Johannes Pelagii, Petrus Johanis, Johannes Pelagii, Dominicus Pelagii, Pelagius Vaasquiz, Johannes Ooriguiz, jurati dixerunt quod Rex nullum habet ibi Regalengum.

De Santo Vicentio de Coucieiro, Gomecius Johannis abbas, Gomecius Petri, Martinus Michaelis, Petrus Petri, Martinus Gunsalvi, Johannes Pelagii, Petrus Johanis, Johannes Pelagii, Dominicus Pelagii, Pelagius Vaasquiz, Johannes Ooriguiz, jurati dixerunt quod habet ibi dominus Rex de fossadeira viiij. cubitos et medium de bracali, j. solidum, et vocem et calumpniam. Et vadunt ad intorviscatam. Et nichil est ibi negatum.

De Santo Vicentio de Coucieiro, Gomecius Johannis abbas, Gomecius Petri, Martinus Michaelis, Petrus Petri, Martinus Gunsalvi, Johannes Pelagii, Petrus Johanis, Johannes Pelagii, Dominicus Pelagii, Pelagius Vaasquiz, Johannes Ooriguiz, jurati dixerunt quod Rex non est patonus.

De Santo Vicentio de Coucieiro, Gomecius Johannis abbas, Gomecius Petri, Martinus Michaelis, Petrus Petri, Martinus Gunsalvi, Johannes Pelagii, Petrus Johanis, Johannes Pelagii, Dominicus Pelagii, Pelagius Vaasquiz, Johannes Ooriguiz, jurati dixerunt quo ista ecclesia habet ibi X. casalia minus quartam. Hospitale iij. casalia et j. quintanam.


Tradução

De São Vicente de Coucieiro, o abade Gomes Anes, Gomes Peres, Martinho Miguel, Pedro Peres, Martinho Gonçalves, João Pais, Pedro Anes, João Pais, Domingos Pais, Pelagio Vasques, João Ourigues juraram e disseram que o Rei não tem Reguengos.


...(repetição do nome das testemunhas) juraram e disseram que havia ali domínio do Rei (por isso pagavam) de fossadeira 9 côvados e meio de bragal e 1 de cereal de voz e calúnia. E vão a entroviscada. E não há nada negado.
... (repetição do nome das testemunhas) juraram e disseram que o Rei não é patrono.
... (repetição do nome das testemunhas) juraram e disseram que a igreja local tinha 10 casais menos 1/4 e a ordem do Hospital tinha 3 casais e 1 quinta.


Notas:
Reguengo: terra pertencente a casa Real
Foro de Fossadeira: isentava quem o pagava de prestar serviços ao rei
Bragal: tecido de linho grosso
Foro de voz e calúnia: dava o direito de chamar o Mordomo do Rei, para se fazer justiça.
Patrono: É o direito de quem adquire, edifica ,dota ou reedifica uma igreja.
Entroviscada: Pesca com trovisco pisado, que se deita ao rio para matar os peixes.
É a confirmação que a nossa Igreja tinha bastantes terras, na nossa própria freguesia.

Inquirições de D. Afonso III de 1258 

Julgado de Regalados
Documento original da torre do Tombo






texto original (Transcrição de Alexandre Herculano em Portugaliae Monumenta Historica, 1888)


Item, in Judicatu de Regalados estes sum os dereitos que ha el Rey.

Item, in collatione Sancti Vincentii. Johannes Martiniz sen pay judex, Dominicus Dominici, Laurentius Dominici, Johannes Pelaiz, Petrus Godini, Domnus Duram, Vicentius Johanis, Dominicus Petri, Martinus Petri, Domnus Silvester, Martinus Martiniz, Martinus Johanis, jurati dixerunt:

que el-Rey non é padrom. Item, dixerunt que desta collatione dam cada ano al Rey de fossadeira pro Sancto Michaele, scilicet: da erdade de Elvira Valasquiz 1 bragal. Item, da erdade de Aragunti Suariz 1 gallina. Item, da erdade de Toerigos 2 varas de bragal. Item, dixerunt que pectam voz et caomia, et vam in anudava, et dam vida ao Mayordomo d'el Rey de qual teem, quando se pagam de la dar; et se morer omem que senor non aya dá loitosa al Rey. Item, dixerunt que de vila de jusaa et de susaa vam a entorviscada. Item, dixerunt que a quintana do lameyro cum 3 casaes, que fora de Egas Fafias; et que ouvirom dizer que fora Onra des tempo del Rey don Alfonso I.º Item, dixerunt do Outeiro que fora quintana de Padre boo, et que a viram onrada. Item, dixerunt do Crasto que fora de Pelagio Ayras et que a viram andar in Onra. Item, dixerunt que da erdade dos Toerigos testarom á ecclesia, per que tole a fossadeira al Rey. Item, Roderico Egee comparou erdade de domna Aldara et ergeu inde o foro que fazia al Rey.

Tradução:

Também, na paroquia de São Vicente. João Martins judex, Domingos Domingues, Lourenço Domingues, João Paio, Pedro Godinho, Senhor Durão, Vicente Aires, Domingos Pedro, Martinho Pedro, Senhor Silvestre, Martinho Martins, Martinho Aires, juraram e disseram: que o Rei não é patrono. Também, disseram que desta paroquia dão cada ano ao Rei de fossadeira no São Miguel a saber: da herdade de Elvira Vasques 1 bragal. Também, da herdade de Aragonte Soares 1 galinha. Também da herdade de Toerigos 2 varas de bragal. Também, disseram que pagam voz e calunia, e vão em anudava, e dão vida ao Mordomo do Rei de qual tem, quando se paga de lhe dar; e se morrer homem que não tem senhor, dão lutuosa ao Rei. Também disseram que a montante e jusante vão a entroviscada. Também disseram que a quinta do Lameiro com 3 casais, que foi de Egas Fafias; e que ouviram dizer que foi honrada dês do tempo do Rei Dom Afonso I. Também disseram do Outeiro que foi quinta do Padre Bom, e que a viram honrada. Também disseram de Crasto que foi de Pelagio Aires e que a viram andar em honra. Também disseram que a herdade dos Toerigos foi herdade pela Igreja, e por isso não paga a fossadeira ao Rei. Também, Rodrigo Egeu comprou a herdade de Dona Aldara e a partir daí não pagou o foro que fazia ao Rei.

Notas:
Judex: ( Johannes Martiniz (João Martins) era judex de Regalados): magistratura popular electiva confirmada pelo Rei, e em alguns casos de nomeação régia. Nas Inquirições estes magistrados eram tidos como representantes da autoridade central, inspectores das propriedades reais da freguesia, protectores dos lavradores contra agressões e excessos dos mordomos. Sendo chamados a decidir segundo costumes e equidade nas pendências da população dos campos com a coroa. Primitivamente, na sua jurisdição, eram assistidos pelo pároco nos litígios da regulamentação da vida rural. “Eduardo Miguel Macedo Gomes em A Administração Local na Monarquia Constitucional. O Papel da Freguesia e do Pároco (1834-1910) UM 2012”  

Padrom,patrono: É o direito de quem adquire, edifica, dota ou reedifica uma igreja.
Foro de Fossadeira: isentava quem o pagava de prestar serviços ao rei
Bragal: tecido de linho grosso
Pectam: Pagam.
Foro de voz e calúnia: (voz et caomia) dava o direito de chamar o Mordomo do Rei, para se fazer justiça.
Anúduva: construção e reparação das obras militares
Loitosa(Lutuosa): imposto sucessório pago ao senhor pelos herdeiros com a peça mais valiosa do falecido, neste caso, pago ao Rei por quem não tem senhor.
Vila de jusaa et de susaa: a jusante e a montante do rio.
Entroviscada: Pesca com trovisco pisado, que se deita ao rio para matar os peixes.
Quintana do Lameyro (ou de Sequeiros): Estendia-se, na altura, pelo território da freguesia de Sequeiros, como consta na inquirição desta freguesia: "São Pelagii de Sequeiros... que esta collatione é onra, et que elRey don Alfonso Iº a onrara a don Egas Fafiz, et que non fazem nem uno foro al Rey". E de São Miguel e Sta. Marinha de Oriz que dizem serem Honrados e não pagam nem um foro ao Rei.





Paço e capela do Lameiro

3 casais: encabeçado. Assim chamavam ao casal, ou prazo fatiosim, que dividido por muitos, ou alguns colonos, um só, a que chamam Cabeceira, Cabeça ou Cabecel, he obrigado in solidum a responder pela pensão, e fóros, cobrando-os dos mais pessoeiros, e entregando-os elle só ao direito senhorio. ELUCIDÁRIO DAS PALAVRAS, TERMOS E FRASES ANTIQUADAS DA LINGUA PORTUGUEZA, FR. JOAQUIM DE SANTA ROSA DE VITERBO, 1799.
Aqui tendo em vista a extensão da quinta, pode ser os 3 Lugares, Lameiro, Sequeiros e talvez Boi-Morto (Oriz)
Egas Fafias(ou Fafes) de Lanhoso: Filho de Dona Froille Viegas de Penegate e D. Fafes Luz de Lanhoso(Nobiliário de Famílias de Portugal vol 9,1990.
 

Onra (Honra): No sentido de distinguir, e conceder privilégios, isenções, direitos de justiça e proibição de entrada de magistrados régios.
Tole: escapa, foge.





Inquirições Gerais de D. Dinis de 1288


Julgado de Regalados

Documento original da torre do Tombo












Transcrição:
Também da freguesia de São Vicente de Coucieiro, no lugar que chamam Crasto, achei no rol del Rei que era todo devasso, porque era de lavradores. Eu mando que o será, e que, e entre o mordomo, pelos direitos del Rei, salvo o que for de fidalgos.
Também no lugar que chamam Serem, achei que Vicente Eanes e João Durães que se defendem por cousa dum fidalgo que criaram, e achei que o criaram na casa onde morra Vicente Eanes. Porque mando, que o que morar nessa casa é que será honrado, a de João Durães será devassa.

Notas
Devasso:definição do DicAberto –adj. Libertino, licencioso.( Por isso ficava sem privilégios).
O segundo paragrafo tem a ver com o AMADÍGO: Lugar, povo, quinta, casal, ou herdade, que lograva os privilégios de Honra, por n'elle se haver criado ao peito de alguma mulher casada o filho legitimo de um Rico-Homem, ou Fidalgo honrado. Era este um dos grandes abusos, que os fidalgos commettiam, e que se oppunha aos interesses da real fazenda.
Queria um lavrador libertar o seu casal , ou herdade: pedia a um fidalgo, senhor da Honra mais visinha lhe desse um filho a criar a sua mulher: criava-o ella em sua casa ; e por ser ama do leite d'este tal filho, amparavam os pais d'elle aquello casal, e o honravam ; e não só a casa do lavrador, mas lodo o lugar, e visinhança, onde o lavrador morava, ficava honrado, livre, e isento de imposições, e tributos.
Estes Amadigos, ou lugares privilegiados com attenção das amas, que criavam os filhos legítimos dos grandes, foram deitados em devassa, e ultimamente abolidos por El-Rei D. Diniz no ano de 1290. ELUCIDÁRIO DAS PALAVRAS, TERMOS E FRASES ANTIQUADAS DA LINGUA PORTUGUEZA, FR. JOAQUIM DE SANTA ROSA DE VITERBO, 1799.